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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Decidir-se não neutro.


Existem momentos que pensamos em guardar nos mais profundos e obscuros arquivos dentro de nosso ser. Como o cervo que o menino Gordon  sozinho observa gracioso bem próximo a ele, quando estavam em busca do corpo de um menino desaparecido no filme de Stephen King, Conta comigo. Como ele, nós ou eu, também tento resguardar alguns destes incríveis momentos, não sei se por medo que não se compreenda, ou pelo simples sabor de manter aquilo exclusivamente seu. Eis que me ocorreu uma situação inusitada no dia de hoje, que me remete a uma outra situação do mesmo teor que ocorreu a pouco mais de um mês. Contudo, acredito que eu tenha que explicar antes o que me deixou assim "apurrinhado". Talvez a maioria ainda não tenha percebido a série de defeitos que possuo, mas um deles, talvez o maior, é o fato de se orgulhar de cada um destes defeitos. Explicarei melhor. Trata-se de defeitos que têm uma certa consistência, entendam, não se trata de meros caprichos, birras ou dramas. São defeitos pautados em princípios, que brotaram ao longo dos anos dentro de mim. Um desses "defeitos" é a não neutralidade diante de quaisquer situações inusitadas. É um fato consumado, que já passei a odiar pessoas só de perceber o quão neutras elas são, e isso não tem nada a ver com o simples ato de ser indeciso, é a neutralidade cruel, decidida, escolhida, é quando se acredita ser neutro sem saber, que ser neutro é tomar uma decisão, que é justamente a decisão de não tomar decisão alguma. Visto a minha decisão consciente de jamais me por como neutro em nenhuma questão, então mesmo querendo manter a situação da qual me remeti inicialmente, como uma situação só vivenciada por mim, decidi que talvez expor fosse a atitude menos neutra que eu poderia ter, e não poderia ser diferente, já que este é um dos meus grandes rancores no viés das relações humanas. Deste modo, vamos aos fatos, sendo que um deles ocorreu hoje, quando sai decidido a fazer uma caminhada seguido de uma corrida num bairro novo aqui da cidade, onde algumas pessoas costumam fazer isso, pois sim, eu estou fazendo isso com freqüência, normalmente vou correr no parque do ingá em Maringá, mas como estava sem companhia para isso, decidi ficar por aqui mesmo. Fui até lá, o sol estava terrivelmente quente, latejando na minha cabeça, mas esforçado tentei terminar as três voltas das quais me propus. Na última volta, quando ia pegar meu caminho de casa, e sair do bairro, três meninos numa faixa de 13 e 14 anos, de bicicleta, parados na esquina jogando pedra na parede de uma casa em construção, o que já reparei  não gostei muito das atitudes, continuei e me aproximei, afinal era caminho, e ouvi eles conversando, "Se você pegar ele eu entro", "é a gente entra", e depois de ouvir isso logo deduzi que estavam falando em bater em alguém, mas segui meu caminho, pois percebi que estavam falando de alguém que eu não conhecia, porem, eles me passaram de bicicleta, e um menino vinha descendo em direção contrária, sozinho, do outro lado da rua. Os três meninos o cercaram com a intenção de bater nele, e eu passando ali, do outro lado da rua. Eu me pergunto o que eles têm na cabeça? E respondo eu mesmo, nada. Eles estão pautados numa sociedade que fecha os olhos, que foge dos problemas, que não enfrentam de frente, que deixam seus filhos morrerem por pura covardia, que se fingem de cegos e banalizam a brutalidade indiferentes a tudo, os neutros. O que eles não contavam, é que comigo não meu bem! Aqui não tem neutralidade, e eu jamais ia passar por ali, ver aquilo acontecendo e fingir que não era comigo. Antes que dessem os primeiros golpes, intercedi, apartando a briga, sem violência claro, só chamando a atenção deles para como se deve resolver os problemas sem brigar, mandei cada um para um lado e fui embora, coisa boba, sim, mas quantos fariam isso? Não tô dizendo para a negada em massa sair por ai se metendo em briga, é necessário ter a perspicácia, a sensibilidade de saber que é possível e indispensável a sua interseção, e então agir. Assim, me reporto a outro fato, que ocorreu comigo no dia que fui levar minha mãe ao médico. Bem fiquei a esperando no lado de fora do trabalho dela, sentado na minha moto, ela estava demorando, foi quando notei uma senhora que vinha do outro lado da rua, virei o rosto, abaixei a cabeça, a senhora já tinha passado, quando levantei os olhos ela vinha próximo de mim do sentido oposto como num passe de mágica, e olhando profundamente nos meus olhos. Ela disse: "Você acredita em Deus né?" e eu respondi que sim, e ela prosseguiu - "Jesus te ama e você sabe disso, eu estava do outro lado da rua, e senti que tinha que te dizer isso, e por isso estou aqui, porque eu DECIDI, que sempre quando eu sentir a necessidade de dizer isso alguém, não importa quem, nem o lugar, nem a vergonha, eu vou dizer", e disse mais - "Coisas muito boas vão acontecer na sua vida, eu sei que esta sofrendo no momento, mas Jesus vai mudar a sua vida, e não estou levantando nenhuma bandeira de igreja, por que o que importa é dizer que Jesus te ama". Nesse sentido, eu me senti tão sem palavras, mas tão agraciado de estar ouvindo aquilo, por que de fato, da mesma forma inusitada como ela apareceu, ela também desapareceu, como num passe de mágica, e isso foi real. Ela ter tomado aquela atitude, para alguns pode parecer tão banal, mas eu achei tão significativo, tão importante. Ela decidiu, que não iria ficar neutra as questões que ela acredita, e aquilo foi admirável, e provavelmente eu nunca mais verei aquela senhora na minha frente, foi uma experiência unica. Dali, minha mãe apareceu e saímos direto para o médico, e até então não havia contado isso para ninguém. E nesse viés, foi que eu DECIDI  relatar tais acontecimentos, que a principio parecem tão irrelevantes, mas que podem sem que eu saiba serem muito significativos para outras pessoas. E assim, mantenho esse defeito do qual me orgulho muito, o de não ser neutro.

3 comentários:

  1. Eu me sinto muito orgulhoso de vc! Sem palavras.
    Te adoro!

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  2. Nossa, amei o texto, alem de escrever muito bem, tem uma sensibilidade incrível, pelo fato da "não neutralidade". Gostei muito do texto e me senti na obrigação de comentar o seu ponto de vista, ou digamos, defeito, como você mesmo o nomeou. Beijos.

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  3. pois bem acredito por ser uma jovem pessoa tem como um grande trofeu ,o auto conhecimento de si proprio ,ou seja não são defeitos se vê bem são suas qualidades ,que forma esse ser humano que es ...tenha orgulho de suas palavras elas sao sabia
    e ao fato de nao neutraliedade cabe em devidos momentos pode acreditar que vc se ve obrigado a fazer isso .Mais tomar uma decisao tem que ter atitude e defender o que decidiu e assim a vida nos desafia cada instantes ...bjs samea

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Pedras na janela


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